Há um poema do crítico literário C.S. Lewis que é uma espécie de confissão. Na primeira vez em que o li, me identifiquei tanto com seus sentimentos que era como se alguém estivesse chamando meu nome. Sempre retorno a esse poema quando penso sobriamente sobre minha fé, sobre os preceitos gerais da espiritualidade cristã, os belos preceitos que indicam que somos falhos, todos somos falhos, o político corrupto e o devoto professor de escola dominical. No poema C.S. Lewis se auto-analisa. Ele fala de sua própria depravação com uma espécie de bravura comovente:

All this is flashy rhetoric about loving you.
I never has a selfless thought since I was born
I am mercenary and self-seeking through and through:
I want God, you, all friends, merely to serve my turn.

Peace, re-assurance, pleasure, are the goals I seek,
I cannot crawl one inch outside my proper skin:
I talk of love –a scholar’s parrot may talk Greek–
But, self-imprisoned, always end where I begin.

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[Tudo não passa de retórica barata sobre amar você.
Eu nunca tive um pensamento altruísta desde que nasci.
Sou um mercenário egoísta o tempo todo;
Quero Deus, você, todos os amigos apenas servindo a mim.
Paz, garantia, prazer, são minhas metas.
Eu não consigo me arrastar um centímetro fora de minha pele;
Eu falo de amor — o papagaio de um professor pode falar grego —
Mas, preso dentro de mim, sempre acabo onde comecei.]

Geralmente, fico sentado em meu quarto ponderando se eu sou como o papagaio do poema de Lewis, balançando em minha gaiola, recitando Homero, o tempo todo sem saber o que estou dizendo. Falo sobre amor, perdão, justiça social; invisto contra o materialismo em nome do altruísmo, mas será que já controlei meu próprio coração? Praticamente todo o tempo eu passo pensando em mim mesmo, me satisfazendo, me tranqüilizando, e, quando termino, não restou nada para os necessitados. Seis bilhões de pessoas vivem neste mundo e só consigo pensar em uma – eu.
[Felipe Garcia]